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A VIDA É CÍCLICA



Em dezembro de 2017, no coração financeiro da capital econômica da América Latina, pude registrar essa imagem. Para muitos pode ser apenas um catador de lixo que ama muito seu animalzinho de estimação. Muitos nem se quer se dão o trabalho de ler o que ele escreveu em seu carrinho. E outros torcem o nariz o julgando por ser mais um “desocupado” tomando o espaço da calçada e poluindo a imagem de cidade bem-sucedida de São Paulo. 
Era minha primeira vez sozinha em São Paulo, estava extasiada em conhecer a cidade que tanto amo e admiro, por meus próprios olhos, indo a lugares e conhecendo as mil faces da grande selva de pedra, tão famosa por suas oportunidades de crescimento pessoal e profissional e temida por sua alta criminalidade e falta de segurança. Realmente São Paulo é uma cidade incrível, a Av Paulista (local onde tirei a foto), é mágica, e só quem já teve a oportunidade de estar aí pode dizer o quão é instigante e contagiante caminhar por ela e conhecer todas as suas peculiaridades. 
No momento em que fiz esse retrato, me surgiram alguns questionamentos e eu não podia sair dali sem antes conhecer um pouco da história desse ser humano que me tocou por tamanha generosidade demonstrada. Quem era aquele homem? De onde ele veio? Quais os motivos de sua atual situação? Seria perigoso uma aproximação? Afinal, estamos em São Paulo, no meio da Av. Paulista, quem em sã consciência abordaria um estranho? Ainda mais um estranho nessas condições… 
Bom, fiz o que a placa pedia. Dei uma contribuição para a Duquesa, e fui surpreendida com um sorriso sincero e um “Muito obrigado, que Deus lhe dê em dobro!”, que me fizeram criar a coragem necessária para iniciar um diálogo. A Duquesa está com ele a alguns meses, e ele foi em São Paulo a trabalho, pois tinha recebido uma proposta de emprego. Infelizmente, o emprego não deu certo e por uma peça do destino acabou ficando sem grana para voltar à sua cidade de origem. 
O diálogo não durou muito, pois ainda estava receosa, mas o pouco que conversei com o dono da Duquesa pude ter a impressão de que estava diante de um ser humano incrível, corajoso, valente e que não teve medo de ir em busca do que queria. Soube definir o que queria e foi até as últimas consequências. Hoje não deu certo, ele está nas ruas, dependendo da compaixão e humanidade das pessoas, sua única companhia é uma cadela, e sua única esperança é poder voltar de onde saiu e começar tudo novamente. 
Esse diálogo me fez pensar sobre o quanto eu estaria disposta a lutar por um sonho, o quão longe eu iria em busca daquilo que desejo e quão alto apostaria para poder tirar um projeto do papel… 
O dono da Duquesa não mediu esforços. Não limitou seus sonhos e nem mesmo suas atitudes. Ele apenas foi. Tentou. Apostou. E quando eu o perguntei se ele se arrependeu de ter tentado, a resposta foi a seguinte: “Minha jovem, veja bem, a vida é cíclica e oportunidades não voltam. Se eu não tentasse estaria no conforto do meu lar, porém com a mesma vidinha medíocre de sempre. Hoje eu estou aqui sendo um ‘miserável’ ao olhos dos que passam. Mas, quer saber? Nunca fui tão rico quanto estou agora. Saí da minha zona de conforto e descobri que posso alcançar o que quero e ser quem eu quero, mesmo que as circunstâncias não estejam ao meu favor. Um conselho, jovem: jamais deixe de estudar e tenha boas influências, com estudo e trabalhando com as pessoas certas, você alcança o que quiser. Quanto aos meus sonhos e o que eu fiz pra tentar alcançá-los eu não me arrependo e faria tudo novamente. Posso não ter alcançado ainda aquilo que almejo, posso estar numa situação totalmente desfavorável, mas eu tenho saúde, inteligência e a cada dia adquiro sabedoria. Alcançar os meus desejos sem crescimento pessoal não teria sentido. Então, eu sou grato a tudo e principalmente a Deus que não me abandona em nenhum momento.” 
Nem preciso dizer que essa resposta foi uma porrada no meu estômago. Saí da presença dele e chorei. Como pode uma pessoa estar nessa situação e ainda ser grata, humana, caridosa e sonhadora? Muitos no lugar dele já teriam desistido. Na verdade, a gente desiste por tão pouco. Coisas bem menores já são capazes de nos tirar do caminho, do foco, nos fazem desanimar, perder o rumo e quando a gente vê lá se foram as oportunidades, o tempo e, consequentemente, os sonhos. 
Na vida temos muitos momentos difíceis. Decisões complicadas. Labirintos infinitos. Obstáculos perturbadores. Mas, quanto mais procrastinamos nossas ações, quanto mais deixamos de decidir de escolher o caminho e de fazer o que precisa ser feito, mais ficamos distantes das nossas realizações, mais deixamos distantes nossos sonhos. 
A vida é feita por tomada de decisões. Essas decisões exigem coragem, vão nos fazer perder algumas coisas as quais não gostaríamos de perder, vão nos tirar da tão confortável “zona de conforto”, vão nos desafiar, vão nos jogar em lugares e situações que nunca imaginamos chegar ou passar, vão nos fazer chorar, sangrar, sentir dores (tanto físicas como emocionais), vão nos levar aos becos, às ruas, aos lugares mais inabitáveis da terra, podem até nos tornar os próximos donos da Duquesa, quem sabe? 
“A vida é cíclica”, as decisões, embora difíceis, são necessárias para que esse ciclo não acabe, para que ela continue girando, continue transformando, continue nos ensinando. Decidimos coisas simples, coisas complicadas. Desde o momento em que acordamos até o momento de irmos dormir, estamos tomando decisões. Então, por que não tomar as decisões mais sérias que definirão nosso futuro? Por que não decidir mudar o emprego, mudar o cabelo, sair daquilo que te dá estabilidade para arriscar e apostar nos seus sonhos? Por que não ir busca daquilo que irá te fazer feliz, daquilo que irá te fazer vencer os seus traumas, daquilo que vai te fazer crescer, evoluir e conquistar tudo o que você ambiciona? O medo de dar errado é maior do que a sua garra para fazer dar certo? A rejeição das pessoas te assusta mais do a mesmice do cotidiano fadigante ao qual você vive? Ou seus sonhos não são bons o suficiente para te fazer largar tudo e ir conquistá-los? 
“A vida é cíclica”, hoje pode ter perdido, você pode estar no chão, sem esperanças, sem motivação, na zona de conforto, sem vontade nem mesmo de levantar da cama quem dirá de viver. 
Porém, “a vida é cíclica”, amanhã você pode decidir por mudar sua realidade, pode decidir lutar pelos seus sonhos, mudar suas atitudes, deixar de lado a procrastinação e ter mais ação. As chances de dar tudo errado são grandes, mas não tão grandes quanto a vontade de fazer dar certo, de cumprir seu objetivo, realizar seu sonho. Lutando mesmo estando cansado e fadigado, sendo paciente mesmo estando de saco cheio, sendo resiliente quando tudo está contribuindo para que você desista. 
O topo da montanha é pra poucos. Não é para os que desistem, para os desmotivados, para os que não acreditam em si, para os que não acreditam serem capazes de chegar lá. 
O topo é lugar dos que vencem. Dos que vencem seus medos, superam seus traumas, enfrentam suas mazelas e se transformam durante a escalada. O topo é para os que não desistem de si. 
O topo é para dono da Duquesa, é para mim e também é para você. Só basta sermos merecedores de estar lá. 
O coitadismo não nos levará ao topo, nem a desistência, muito menos a zona de conforto. 
Sonhe. Arrisque. Aposte. Caia. Levante. Volte ao começo. Se esfole. Crie calos. Se machuque. Canse. Descanse. Sue. Grite. Chore. Mude a estratégia. Persista. Aprenda. Cresça. Pause. Continue. Conquiste. Realize. Se permita a tudo, menos desistir. 
Essa foi a lição tirada no dia 18 de dezembro de 2017, com o “Dono da Duquesa”, no coração da maior cidade do país, da potência econômica da América Latina. Uma lição que mudou minha forma de ver a vida, me ensinando que mesmo em meio ao caos e às situações desfavoráveis é possível acreditar nos sonhos que se tem e fazer de tudo para poder alcançá-los. 
A vida é cíclica, hoje, ao pé da montanha, você deve estar imaginando-se incapaz de vencer o desafio, mas amanhã você pode estar no topo com uma paisagem linda à sua frente e o coração agradecido por ter vencido mais uma. 
Só depende de você.

H.

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